Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulga síntese de Relatório sobre o estado das mudanças climáticas

O desafio de mitigação e adaptação às mudanças climáticas é reconhecido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como um dos maiores desafios transversais da humanidade nos tempos atuais. No último dia 20 de março, representantes do Painel divulgaram a síntese do 6º Relatório de Avaliação (AR6), trazendo os principais pontos do estágio atual de conhecimento científico das mudanças climáticas, bem como seus impactos e riscos para a humanidade e biodiversidade, além de medidas possíveis de serem adotadas a curto, médio e longo prazo.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas é uma organização científico-política criada pelas Nações Unidas (ONU) que desde 1990 reúne e resume o conhecimento sobre mudanças climáticas produzido por cientistas independentes de alto nível ao redor do mundo, elaborando relatórios que são adotados como parâmetro científico na área das mudanças climáticas.  Desde sua fundação o IPCC produziu cinco grandes relatórios, e este ano foi publicado o 6º relatório de síntese, atualizando e compilando em um só documento as descobertas de todo o 6º Ciclo de Avaliação do IPCC.  

Apesar da gravidade das alterações climáticas ficar confirmada no documento disponibilizado, há destaque para o fato de que ainda existe uma janela de ação para limitar aumentos mais fortes na temperatura e evitar efeitos catastróficos.

Algumas das principais conclusões do IPCC sobre os atuais efeitos das mudanças climáticas foram:

(i) os efeitos negativos do aumento da temperatura média global continuarão a se intensificar no médio prazo (2021-2040), afetando a disponibilidade de água, a produção alimentar, as infraestruturas urbanas, a biodiversidade e ecossistemas, e ainda serão observados por ao menos três gerações – os nascidos entre 1950, 1970 e 2020.

(iii) nas áreas urbanas, as mudanças climáticas causaram impactos adversos na saúde humana, meios de subsistência e nas principais infraestruturas incluindo transporte, água, os sistemas de saneamento e energia.

(iii) perdas econômicas, em decorrências das mudanças climáticas, já estão sendo observadas em setores mais expostos, como agricultura, pecuária, pesca, energia e turismo.  

(iv) a urgência para a redução das emissões aumentou e a janela de oportunidade para evitar grandes impactos socioeconômicos diminuiu, alguns dos efeitos das mudanças climáticas serão irreversíveis. Nesse contexto, os dados apontam a importância do foco no desenvolvimento através da adaptação e mitigação de maneira coordenada e conjunta.

Já em relação às notícias promissoras, o relatório apresenta algumas soluções a curto e longo prazo e aponta que já temos as tecnologias necessárias para reduzir pela metade as emissões até 2030 e a implementação e planejamento de ações de adaptação que progrediram em todos os setores e regiões, com benefícios documentados.

Reduções expressivas, rápidas e consistentes nas emissões de gases de efeito estufa podem levar a uma desaceleração perceptível no aquecimento global dentro de cerca de duas décadas, e também nas mudanças perceptíveis na composição atmosférica dentro de alguns anos.  

Segundo o relatório, a descarbonização inclui a transição de combustíveis fósseis para fontes de energia com carbono muito baixo ou zero, como renováveis ou combustíveis fósseis com captura e armazenamento de carbono (CCS). Além disso, na maioria dos caminhos modelados, a mudança no uso da terra e a silvicultura (via reflorestamento e redução do desmatamento) e o setor de fornecimento de energia atingem emissões líquidas zero de CO2 antes dos setores de edifícios, indústria e transporte.

Adicionalmente, também é destacada a necessidade de foco no corte de outros gases além do CO2, por exemplo, em caminhos modelados que limitam o aquecimento a 1,5°C (> 50%) sem superação ou superação limitada, as emissões globais de metano são reduzidas em 34 [21–57]% até 2030 em relação a 2019, um desafio importante, por exemplo, para a pecuária. 

Em relação à regulação, é reconhecido que muitos instrumentos regulatórios e econômicos para redução de emissões já foram implantados com sucesso. Em muitos países, as políticas melhoraram a eficiência energética, reduziram as taxas de desmatamento e aceleraram a implantação de tecnologia, levando a emissões evitadas e, em alguns casos, reduzidas ou removidas.

No setor de energia os dados apontam que de 2010 a 2019 os custos da geração de energia eólica e solar diminuíram 55% e 85%, respectivamente, e os custos para armazenamento de eletricidade em baterias de lítio diminuíram 85%, o que indica que opções de mitigação por redução de emissões no setor de energia estão se tornando tecnicamente viáveis, cada vez mais rentáveis e apoiadas pelo público.

O Relatório também destaca a necessidade de ação por parte dos governos, setor privado e sociedade civil, afirmando que todos desempenham um papel crucial para acelerar mudanças rumo à sustentabilidade.

Em síntese, o IPCC conclui que a mudança climática deverá ter um enfrentamento compartilhado e transnacional para que o processo de transição para uma economia de baixo carbono ocorra. A melhoria da cooperação internacional envolverá a ultrapassagem de barreiras domésticas e poderá permitir um aumento da ambição de combate às mudanças climáticas através de medidas de adaptação e mitigação no planeta.

Cabe também aguardarmos e observar como este Relatório irá afetar as negociações da Conferência das Partes (COP) deste ano, que ocorrerá no fim de novembro, em Dubai.

Profissionais relacionados: Alice de Siqueira Khouri, Vivian Marcondes de Oliveira e Lucas Ribeiro Lima.